Esgrima, exercício e estresse térmico
Estive recentemente acompanhando alguns atletas que oriento em um dia de competição, no caso a competição era de esgrima e alguns detalhes sobre o esporte me chamaram muita atenção. Em especial o tempo que pode demora para a competição ser concluída. Isso me chama a atenção, pois a competição tem inicio por volta das 9hs da manhã e dependendo do numero de participantes e de contratempos na organização pode durar até o meio da noite.
É claro que a minha preocupação com este detalhe se refere ao cuidados nutricionais nestas condições, mas o desafio vai além, não só de se manter hidratado, alimentado com o tempo certo de digestão entre os combates, mas para se manter concentrado e aquecido, pronto para competir, por todo esse tempo.
Ao longo estes dias de competição pude perceber que assim como nos esportes de longa duração como as maratonas, corridas de aventura e provas longas de triathon, um dia de competição de esgrima, independente da arma que se use, mesmo não sendo uma atividade intermitente, tem como grande desafio a manutenção de um estado adequado de hidratação para garantir a prática esportiva e um melhor desempenho.
É importante dizer que durante o processo de contração muscular, em media 70% da energia produzida pelo organismo é dissipada na forma de calor e os 30% restantes é a energia usada na contração muscular. Em exercícios intensos a produção de calor metabólico pode exceder 20Kcal/min. Se esta energia não fosse perdida na forma de calor a temperatura do corpo aumentaria 1o C a cada 5 minutos, o que levaria a um possível colapso.
Os mecanismos de termoregulação do corpo são os responsáveis em prevenir este colapso, facilitando a perda de calor durante a atividade, com o aumento produção de suor e facilitação da sua saída pela vasodilatação periférica.
A taxa de sudorese entre indivíduos é interferida pelas condições ambientais como temperatura, umidade e vento, o tipo da roupa usada, a intensidade e a duração da atividade.
Atividades prolongadas e em ambientes quentes e úmidos exigem perdas hídricas bem aumentadas para o controle da temperatura interna, essas se aproximam de 6 a 8% da massa corporal pré exercício, acarretando em uma severa desidratação.
São esses dados que me chamam a atenção à condições durante um dia de competição de Esgrima, pois devido ao tipo de roupa usada e o longo período de competição existe um considerável aumento de perda de suor exigindo um grande cuidado para não correr o prejuiso das respostas fisiológicas e do desempenho físico.
Esses efeitos prejudiciais (veja a tabela abaixo) podem ocorrer mesmo que a desidratação seja leve ou moderada, com até 2% de perda do peso corporal, agravando conforme ela se acentua. Em torno de 3% de perda, há redução importante do desempenho, com 4 a 6% pode ocorrer fadiga térmica e partir de 6% existe risco de choque térmico e efeitos ainda mais deletérios e perigosos como o coma.
ALTERACÕES PROVOCADAS PELA DESIDRATACÃO
AUMENTO |
REDUÇÃO |
Freqüência cardíaca submáxima Concentração de lactato e osmolaridade sanguínea Índice de percepção de esforçoNáuseas e vômitosRequerimento de glicogênio muscularTemperatura interna: hipertermiaDoenças do calor: cãibras, exaustão ou choque térmico
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Volume plasmático Volume sistólico, débito cardíaco e VO2max Fluxo sanguíneo para pele e músculos ativos, fígado e outros órgãos Taxa de sudorese Tempo para atividade contínua, prolongada e intensa Pressão arterial Componentes cognitivos Motivação |
Fonte: Modificacões dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde- Sociedade brasileira de medicina esportiva
Em eventos de longa duração, a reposição hídrica deve acontecer em uma mistura que leva água, glicose e eletrólitos, com a finalidade de acelerar a absorção da água. Mas são necessários alguns cuidados para garantiar o esvaziamento gástrico correto, a absorção no intestino e uma sabor agradável que facilite o consumo.
Então preste atenção:
- Recomenda-se a ingestão de 400-600ml/ 1-2 horas antes; 150-300mL/meia hora antes;
- A temperatura da bebida deve variar entre 6 e 20o C, assim ficando mais gostosa de beber;
- A concentração pode acelerar ou retardar o esvaziamento gástrico e a absorção no intestino, então misturas com 6 a 10% de concentração de carboidratos são mais eficientes nos dois quesitos anteriores;
- A relação entre carboidratos e sódio deve ser de aproximadamente 12:1 respectivamente, ficando muito parecida aos fluídos corporais;
- O volume de liquido pode variar muito conforme o individuo e as condições ambientais, mas fracionar esta ingestão é fundamental para assegurar o esvaziamento gástrico e a absorção. Em media 250ml de solução a cada 15 minutos;
- É indicado a realização de pesagem antes e depois de treinos e competições para mensurar a % de peso perdido e estratégias individualizadas;
- O excesso de água também é um motivo de preocupação, ela acelera a eliminação de líquido para manter uma condição ideal de funcionamento e neste momento também elimina minerais importante para manter a fisiologia da atividade adequada. Nada de excesso!!!!
Fernanda Palma
Nutricionista esportiva
fpalma@institutokellystefani.com.br